Alimentação, Cultura e Tradição da Dieta Mediterrânica
– As práticas de um modo de vida saudável e sustentável
O modo como uma determinada comunidade vive, trabalha e se relaciona está intimamente ligado com o que se come, porque se come e como se come. A própria palavra dieta deriva do grego díaita, que significa “modo de vida”.
Reconhecer esta ligação implica reconhecer também a dieta mediterrânica (DM) como um modelo cultural, para além de um reconhecido regime alimentar, que abrange outros conhecimentos, rituais, técnicas e práticas sociais, como a própria produção, preparação e confecção de alimentos, a fabricação de recipientes para os transportar, conservar, confecionar e consumir, ou os mercados locais como espaços culturais.
A dieta mediterrânica foi considerada património da humanidade em 2013. As práticas alimentares da dieta são, em primeiro lugar, extremamente saudáveis, baseadas no consumo de produtos frescos, de produção local e de acordo com as estações do ano; e sustentáveis, quer pelo baixo consumo de água, como pela reduzida emissão de CO2.
Em matéria de consumo alimentar, é uma dieta muito recomendada a nível nutricional, incluindo o azeite como fonte principal de gordura, uma grande diversidade de leguminosas, hortícolas (couve, abóbora, tomate, cebola, espinafres, nabo, brócolos, feijão-verde, grão-de-bico…), frutas e frutos secos/oleaginosos (maçã, pêra, citrinos, melancia, marmelo, pêssego, noz, amêndoa, avelã…), cereais não refinados (pão de trigo integral, broa de milho, massas, aveia, cevada…), o consumo moderado de vinho, peixe, aves, ovos e produtos lácteos e o consumo baixo de carnes vermelhas, mariscos e moluscos.
A grande biodiversidade botânica da região do sul da Europa também proporciona uma grande variedade de ervas aromáticas, que enriquecem o sabor dos alimentos e ainda partilham de uma valia na medicina popular, como na prevenção microbiana e na agilização da digestão. Em Portugal, algumas das plantas mais utilizadas para condimentação e infusões são o coentro, poejo, hortelã, hortelã da ribeira, orégão, salsa, lúcia-lima, tomilho a erva-cidreira; ou outras plantas silvestres, como os catacuzes, acelgas, agriões, saramagos, beldroegas, espargos, cogumelos e túberas.
No entanto, tal como verificou a investigadora Maria Manuel Valagão nas décadas de 1970 e 80, até a nível nacional existem diferenças significativas: “No Norte ninguém conhecia um orégão ou um coentro para usar na alimentação. As únicas ervas que usavam era salsa e louro”.
Na cultura mediterrânica, partilhar refeições é partilhar tradições! Isto quer dizer que comer não se resume a ingerir alimentos, é um ato social e cultural. Assim, o que define a dieta mediterrânica não é o clima nem a geografia, mas sim a cultura.
Em Portugal, a comunidade local representativa da DM é a cidade de Tavira. No estuário da região, as atividades de salinicultura, marisqueiro e pesca artesanal são seculares. Atualmente, uma parte da população tavirense dedica-se à captura do polvo, mantendo técnicas artesanais.
A Dieta Mediterrânica também é associada ao conceito de Economia Circular, uma vez que “utiliza há milhares de anos os conceitos mais recentes da economia circular”, como podemos ler num documento emitido pela DGS no âmbito do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável.
Podemos entender economia circular como o sistema económico que incentiva à redução, reciclagem, reutilização e recuperação de materiais nos processos de produção, distribuição e consumo, tendo em vista uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
Entende-se dieta sustentável como aquela que com baixos impactos ambientais, contribui para a segurança alimentar e adequação nutricional, para a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas, preservando culturas, tradições e equilíbrio e acessibilidade económica.
Reconhece-se, na DM, uma atitude de Redução, uma vez que utiliza menos recursos e menos energia, mas aumenta a eficiência, a partir, por exemplo, da preferência por produtos de origem vegetal, que requerem menos recursos, ou na confecção alimentar para grupos, ou seja, na partilha de refeições, que, proporcionalmente, gasta menos energia do que cozinhar só para si.
A Reutilização é típica da alimentação mediterrânica, em que se reaproveitam produtos para fazer outros diferentes, utilizando as sobras. Destacamos as açordas ou a roupa-velha como receitas célebres que se fundam na reutilização.
Este modelo também Recusa e Recupera, ou seja, evita que um produto seja substituído ou deixe de ser utilizado, mantendo, por exemplo, o pão e o azeite há milhares de anos.
Por último, enquanto tradição de partilha, obriga a Repensar a própria partilha, isto é, a distribuição diferenciada consoante a preferência ou necessidade de cada um, evitando sobras ou desperdícios.
A divulgação da dieta mediterrânica também é uma das missões do Governo, que pretende que a adesão nacional à dieta aumente 20% até 2030, contando com uma Estratégia Nacional para a divulgação da Dieta Mediterrânica, anunciada em janeiro de 2019. Uma das medidas é, como já anunciada, o desenvolvimento do projeto “O Azeite na Escola”, para divulgação sobre azeite e os seus benefícios nutricionais.
Na Agenda de Investigação e Inovação desenvolvida pelo Centro de Competências para a Dieta Mediterrânica (CCDM), encontramos reforçada a ideia de que “a principal característica deste padrão alimentar é a sua permanente adaptação, respeito pela biodiversidade e tradição, designadamente pela produção e consumo de produtos hortofrutícolas frescos e transformados, locais, e provenientes sobretudo da agricultura familiar.” Esta agenda pretende implementar uma estratégia de valorização das atividades económicas relacionadas com a DM, como o turismo, a agropecuária e a agroindústria.
Também destacamos a intenção da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) de reforçar a estratégia nacional para a salvaguarda e valorização da DM, sendo alguns dos objetivos identificar e valorizar os produtos diferenciadores de cada região de Portugal Continental, criando uma “Rota da Dieta Mediterrânica” com variedade de tradições e património; recuperar e inovar conhecimentos técnicos e promover a articulação com o mercado internacional.
Mais ainda, em fevereiro de 2020, no 3º encontro para a promoção da DM, apoiado pela Food and Agriculture Organization (FAO), voltou-se a destacar a mais valia desta dieta não só para os humanos, como para o meio ambiente e para a biodiversidade, considerando-a como uma prática que “promove padrões locais de produção e consumo de alimentos, incentiva a agricultura sustentável, preserva a paisagem e tem uma pegada ambiental baixa.”
Na agenda 2030, a FAO recorre à dieta mediterrânica para aumentar a consciencialização para a conservação e reutilização de áreas de cultivo abandonadas, incrementando a biodiversificação nos setores agrícola e económico.
Em simultâneo, o CEMAS – Centro Mundial de Valência para a Alimentação Urbana Sustentável, desenvolveu um relatório sobre os efeitos da pandemia COVID-19 nos sistemas alimentares da região mediterrânica, no qual ressalva a urgência em consolidar sistemas mais saudáveis e sustentáveis, recriando abordagens para melhorar a resiliência dos sistemas alimentares nas cidades.
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No contexto nacional, integrante mas particular e diferenciador na tradição mediterrânica, apoiamos, acompanhamos e promovemos os seus projetos! Desde a produção agrícola, ao turismo e à valorização cultural, a herança mediterrânica redescobre-se e reinventa-se na atualidade. Contacte-nos e conte-nos as suas ideias!